quarta-feira, 29 de abril de 2015

Por hoje

Hoje brinco...
Saudades que já senti. 
O mundo é mesmo circular...
Um pingo de amor em meio ao inverno espacial. 
O tempo em que fomos perfeito, 
E não sentíamos nossas mãos, 
Procurando nossos rosto, 
Hoje assombrados pela nossa desilusão. 
Quem sabe o porquê de tudo isso, 
Dessa safra de mortos que não disseram adeus. 
Cada beijo que existe, 
Trará em si aquilo que separa, aquilo que se perde. 
Cada frase que eu invento, 
Ecoa pelos meus próprios rastros,
Nessa terra de cimento e ganância, 
Fomos poucos, fomos pobres. 
O que me consola é o vinho sob o abajur, 
É o filho que acolhemos em nossos braços, 
É a certeza de que esse fio tênue de nossos sonhos, 
Sempre vai existir, 
Remendando os espaços vazios
Entre uma estrela e outra. 
Sou assim. 
Lamento e tento ser feliz...
Meu telefone só cai na caixa postal. 
Acho que não estou. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Aluga-se São Paulo

ALUGA-SE SÃO PAULO

É por aqui mesmo, São Paulo à direita.

Temos hotéis baratos no centro da cidade, onde são garantidos noites de paixão.

Temos café expresso em qualquer esquina, até mesmo com um pouco de chantilly.

Temos o último filme finlandês em cartaz na Avenida Augusta. Sessão meia-noite sem legendas. 

Temos feira livre todos os dias da semana, embora a que eu freqüente só bloqueia a rua às sextas-feiras, mas como é bom comprar um botão de rosa fresquinho na barraca da japonesa.

Temos metrô de minuto em minuto. Todos cheios de trabalhadores cansados, e meia dúzia de estrangeiros perdidos entre as estações.

Temos  bares com couvert de quinze reais, com dez fregueses comendo batata frita enquanto relembram suas desilusões. Amei muito ouvindo Tim Maia.

Temos roupas caras na Oscar Freire, feitas só para baladas onde a etiqueta cai dentro do copo de uísque.

Temos museus para lembrar que só se pinta um Picasso uma vez em toda a existência humana.

Temos clássicos do Palmeiras toda quarta-feira, embora só se faça gols aos sábados.

Temos arranha-céus de última geração, com janelas que espelham o céu em todas as direções, e tudo bloqueado por senhas.

Temos mendigos em todos os cruzamentos, quando os vidros dos carros se fecha e a adrenalina vai à mil, todos disfarçando o pavor profundo de um assalto.

Temos cemitérios que não são ampliados à décadas. Me pergunto quantos andares debaixo da terra
.
Temos diamantes em joalherias caras, para que nos lembremos para que servem diamantes, embora no fundo, são apenas pedras por onde passa a luz.

Temos milhares de caixas eletrônicos espalhados pela cidade, embora só ficam abertos à noite para serem dinamitados e o dinheiro se espalhar pelo chão manchado de tinta.

Temos árvores centenárias em vários bairros de classe média alta, com a tradição de desabarem nos temporais de janeiro sempre em cima de algum carro.

Temos sorveterias que sempre têm sorvete de pistache, embora sempre queremos experimentar outros sabores. Mas pode roubar de colherzinha umas duas vezes, se quiser.

Temos shows de bandas que ninguém nunca ouviu falar, mas que é super legal para conhecer os amigos dos integrantes das bandas. Assim a conversa fica mais legal.

Temos meninas super a fim de beijar a minha boca, mas que ainda não sabem o quanto eu sou legal, principalmente depois de meia dúzia de cervejas.

Temos apartamento de cobertura sempre vazios, esperando que alguém se suicide em meio ao dinheiro e à solidão.

Temos poesia atrás de cada janela que se acende por trás da cortina de recortes de jornais, embora tantas  camas estão cobertas de pó.

Temos colônias de imigrantes de todas as partes do mundo, embora colônia seja coisa de formigas, e por aqui já estão todos cansados de trabalhar.

Temos fábricas de comida em conserva, que faz um mal danado à saúde, mas que são ótimas para se empilharem nos supermercados e liquidar na  promoção.

Temos corações penhorados em alguma rua que ainda é a mesma de cinqüenta anos atrás. Foi bem lá, numa travessa da Avenida São João que Maria perdeu seu grande amor.

E o que mais temos em São Paulo?


À essa hora, quase 20:02 da noite, quando todos se recolhem em suas casas, e esperam o dia de amanhã, com a esperança que não seja diferente desse ontem que já foi, é que eu me sinto feliz por viver por aqui. Nesse vai e vem anônimo, quase ninguém se encontra, e quando se perdem, acreditam que São Paulo é a única testemunha de sua loucura, nesse quadro fantasmagórico que pintamos em nossas paredes. 

terça-feira, 24 de março de 2015

A Flecha na Escuridão




Silêncio nessas horas rasuradas.
O que procuro, o que espero?
Lenta decisão consumida pelo tempo. 
Procuro janelas abertas, 
Só encontro esparadrapos. 
O mundo feito um triângulo raso, 
De onde as flechas torcem a espinha.
Espírito antigo, 
Liberte-me das algemas dos meus pés...
Quero voar, 
Respirar a liberdade em paraísos do olhar. 
E esse amor, 
Distante e profano, 
Se torne a essência dos contornos imaginários
Das nossas mãos que se perdoam, 
Desde quando não existimos mais, 
Por tudo que fomos depois...
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